
JOSÉ DE SOUZA CALDEIRA FILHO
Sou graduado em Biologia, com mestrado em Fisiologia Celular (UERJ) e doutorado em Radiofarmácia (USP). Trabalho como Biocientista Nuclear em uma instituição pública que produz diversos radiofármacos, distribuídos em todo Brasil, para diagnóstico e tratamento de vários tipos de cânceres.
No campo das terapias corporais trabalho com Liberação Miofascial, massagem Ayurvédica e estou em formação no curso de Rolfing – Integração Estrutural. Tenho curiosidade e profundo interesse na relação entre as estruturas e os movimentos do corpo humano, que possa conduzir a novas potências do viver e do existir.
Para situar meu encontro com o Rolfing, preciso falar da minha história de vida.
Eu nasci com o que se chama tecnicamente de pé torto congênito. No meu caso, ambas as pernas estavam espiraladas para dentro, os dedos dos pés virados para trás e a sola dos pés para cima. Os ossos das pernas e dos pés estavam todos fora de lugar. Seguindo o método Ponseti, o reposicionamento dessas estruturas aconteceu nos primeiros meses da minha vida de bebê. A manipulação era feita manualmente por um médico, e, em seguida, era aplicado gesso em toda a perna, ficando só as pontas dos dedos para fora. Esse procedimento foi realizado semanalmente por seis meses. Nos seis meses seguintes, a recomendação era usar botas sob medida com uma barra de ferro entre elas para evitar que o pé espiralasse para dentro de novo. Depois, usei botas ortopédicas até a adolescência. Sempre senti desconforto e dor nos pés, e pisar no chão ao acordar, e mesmo pequenas caminhadas, eram particularmente difíceis para mim.
Aos 28 anos, tive uma pequena fratura no pé esquerdo, mas a recuperação foi difícil, e voltar a andar foi penoso. Nesse processo tive que fazer sessões de fisioterapia, que me ajudaram a ficar em pé novamente. Com as sessões eu comecei a perceber que eu buscava apoios e fazia compensações na parte superior do corpo para eu me movimentar, fosse para andar, ou mesmo para sentar e levantar de uma cadeira, mas a fisioterapia não desenvolveu minha consciência corporal de modo amplo e integrado.
Foi neste momento que eu entendi que precisava de algo para me orientar em relação à gravidade, e que também organizasse as minhas estruturas e as integrasse. Nessa busca encontrei a rolfista Beatriz Whitaker Pacheco, a Bia. A experiência como paciente dela foi incrível e transformadora! Sob seus cuidados, de modo preci(o)so, trabalhamos minuciosamente a organização dos pés e das pernas, trazendo consciência para as estruturas ósseas, para cada articulação, para a musculatura e as fáscias envolvidas, de modo que eu pudesse (re)aprender a me movimentar no espaço. Foram três ciclos de quinze sessões, ao longo de alguns anos. A Bia sempre me dizia: “o movimento é paradoxal”. E foi uma longa jornada para que eu pudesse apre(e)nder o significado disso fisicamente.
Alguns anos mais depois, encontro com a Bia para mais um atendimento. Ela ouve minhas queixas e diz que, como rolfista, não tinha muito mais a fazer, e que eu deveria exercitar meus pés e pernas, mas de um modo bem específico. Então me indicou duas professoras de balé para a próxima etapa do meu tratamento. Foi assim que conheci Zélia Monteiro e Beth Bastos.
A prática do balé, vista por mim como extensão daquele trabalho de Rolfing, era perfeita! Os pés conheceram novos e diferentes movimentos, ganharam coordenação e apoios. As pernas espiralaram um pouco mais para fora, mobilizando as fáscias e (re)definindo o contorno das musculaturas. O meu corpo entendeu os eixos, as lateralidades, se percebeu multidimensional no espaço e, então, fui aguçando a percepção das singularidades do meu mover-me.
Após três anos frequentando as classes de balé, achei que poderia experienciar outras qualidades e fluxos de movimentos. Fui para as aulas de dança africana nos "Experimentos Afro-Corpóreos", que trouxeram a referência do corpo em movimento do oeste da África. Foi desafiador. Eram movimentos tão díspares, envolvendo várias partes do corpo ao mesmo tempo, que fiquei paralisado. Nos encontros semanais, sob condução de Janette Santiago, cada gesto, movimento e deslocamento no espaço era observado, repetido e incorporado. Um novo portal de possibilidades infinitas de movimentos e combinações se abriu para mim. Sigo praticando com entusiasmo!
Também participei de classes de dança moderna, contemporânea, de contato e improvisação, de outras oficinas de dança afro, de body mind movement e cursos sobre vetores da técnica Klauss Viana, estes últimos sob supervisão de Marinês Calori.
Mais recentemente voltei para mais um ciclo de sessões de Rolfing com foco na manipulação visceral, sob os cuidados da Maíra Onaga. Minha queixa era um desconforto abdominal e sensibilidade em uma cicatriz, resultado de uma cirurgia de hérnia umbilical. Novamente o toque preci(o)so e direcionado me proporcionaram reposicionamento dos órgãos viscerais e um novo estado de bem-estar físico.
Estas experiências como praticante de diferentes vivências de corpo-dança, e como paciente de Rolfing, me motivaram a estudar ferramentas que possam auxiliar a cuidar, liberar, destraumatizar e curar o corpo, no sentido de ampliar e desenvolver novas possibilidades de movimentos, criando consciência sobre as estruturas, seus complexos processos de organização e integração, o que me possibilitou renovadas formas de experimentar a vida e a própria subjetividade, alargando as potências e a alegria de viver.
Perseguindo este objetivo, conclui em 2021 minha formação em Liberação Miofascial pela Associação Brasileira de Rolfing (ABR), primeira etapa exigida para me tornar um rolfista, e, em 2022, conclui a formação em massagem Ayurvédica, sob condução da professora Claudia Tanmatra da Ayurveda Brasil, o que foi acompanhada de um curso de Yoga com Alihe Ribeiro, voltado para a preparação do corpo do terapeuta.
Em 2022, com a construção do Espaço Terapêutico Mangifera indica L., me sinto honrado por poder colocar a minha experiência e formação profissional à disposição de pessoas que estejam à procura de revisitar e reinventar as singularidades do seu “mover-se”, seja por questões de traumas natos ou adquiridos e/ou por desejo de expandirem a sua percepção e consciência corporal.